O índio é também um cidadão brasileiro, merecendo, portanto, ter todos os direitos da igualdade, das leis, da educação, saúde e de uma vida digna. Mas ao contrário desta afirmação, a realiadade que esses povos enfrentam é bem diferente. A crônica foge da figura de um personagem infantil sempre sorridente que cansamos de ver nos livros didáticos e histórias em quadrinhos. Os indígenas têm uma rotina de batalhas pela sobrevivência, pelo emprego e até mesmo por uma moradia.
Os povos indígenas de hoje já não estão limitados apenas às suas comunidades nativas, eles já ocupam um espaço bem maior, estão mais reconhecidos e desempenham papéis nas mais altas hierarquias do sistema. Hoje são políticos, são professores, empresários, artistas… Já não é mais aceitável a velha premissa de que o índio deve ser apenas o protetor da floresta e viver na aldeia sem qualquer recurso moderno. Somos nós quem devemos evoluir o pensamento.
Como cidadão brasileiro, o índio ainda precisa lutar para conseguir ter algum direito efetivado. Nas aldeias falta uma educação de qualidade, falta emprego, atendimento médico, faltam oportunidades, ao mesmo tempo, sobra o preconceito, a violência, o medo e a desigualdade. Vale citar aqui o que está acontecendo hoje na comunidade Guarani/Kaiowá do tekoha Mboreviry, em Naviraí, ameaçada por um pedido de reintegração de posse.
A ação foi movida por uma empresa do grupo Petrópolis, um dos principais fabricantes de cerveja do Brasil, que tem interesse no local. O espaço é ocupado por 37 famílias indígenas, que vivem numa área de mata na zona urbana da cidade localizada perto da divisa entre Mato Grosso do Sul e Paraná. Os Kaiowá e Guarani reivindicam a demarcação da área como terra de ocupação tradicional indígena. A ordem de despejo pode ser cumprida a qualquer momento.
Por conta de situações como essa, que anualmente são registradas em diferentes territórios do País, é que o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) reforça que ainda não se pode comemorar o dia 19 de Abril (Dia do Índio/Povos Indígenas). “Os índios têm os seus direitos fundamentais reconhecidos na Constituição Federal de 1988, apesar disso, estão sendo questionados e agredidos pelas elites econômicas e pelo próprio Estado”, pontua a entidade, através de uma nota publicada em seu site.
Ainda de acordo com o CIMI, houve um aumento constante dos conflitos contra a vida dos povos indígenas. “Os territórios são ameaçados e invadidos, na perspectiva colonial de integrá-los e submetê-los à lógica do capital; iniciativas legislativas e administrativas circulam no Congresso e no Executivo com a pretensão de desconstruir os direitos territoriais e inviabilizar os projetos de vida desses povos; povos indígenas são invisibilizados nos contextos urbanos. O comércio, o agronegócio, o minério, o ouro, na visão das elites, estão acima da vida de comunidades, de povos, de lideranças que continuam resistindo em favor de todos nós”, destaca.
Os povos indígenas representam uma extraordinária diversidade cultural e são responsáveis pela preservação e proteção dos territórios, das águas, das florestas, do ar que respiramos. São mais de 300 povos indígenas, falando mais de 170 línguas, com uma população de mais de 900 mil indígenas presentes em todo o Brasil. Elementos fundamentais da história do País, os indígenas merecem o reconhecimento da sociedade e devem ser vistos como brasileiros natos, fazendo jus aos seus direitos.