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sexta-feira, 31 de outubro, 2025
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Juros altos e inflação tiram brilho da poupança, mas ela segue firme no topo

Taxa básica de 15% ao ano estimula fuga para renda fixa, mas caderneta ainda é opção para quem tem pouco dinheiro

Mesmo rendendo menos do que outras aplicações, a poupança continua sendo o investimento preferido dos brasileiros. Segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), 32 milhões de pessoas investem exclusivamente na caderneta, que hoje acumula saldo de pouco mais de R$ 1 trilhão.

Nesta sexta-feira (31), é celebrado o Dia Mundial da Poupança, data criada em 1924 para reforçar a importância da educação financeira e do hábito de guardar dinheiro.

Juros altos reduzem vantagem da poupança

Em um cenário de taxa Selic a 15% ao ano, a poupança perde atratividade frente a investimentos de renda fixa. “Quando a Selic está alta, ela beneficia as aplicações em fundos de renda fixa. Quando cai, beneficia mais a poupança”, explica Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Anefac (Associação Nacional de Executivos).

Mesmo assim, Oliveira destaca que a caderneta é uma boa opção para pequenos investidores, já que é isenta de Imposto de Renda e não cobra taxa de administração. “Com pequenos valores, fundos de investimento perdem atratividade, porque há cobrança de taxa e imposto. A poupança, nesses casos, acaba compensando”, diz.

O economista lembra ainda que, embora tenha baixo retorno, a poupança ajuda a preservar o poder de compra frente à inflação.

Para pequenos valores, poupança ainda faz sentido

Nos últimos anos, a alta da Selic provocou uma migração expressiva de recursos da poupança para os fundos de renda fixa. “Para quem tem mais dinheiro, há alternativas melhores. Mas para quem tem pouco, a poupança segue sendo a mais simples e acessível”, avalia Oliveira.

De acordo com a Anbima, a aplicação segue como porta de entrada para milhões de brasileiros no universo dos investimentos.

Hábito de poupar é o principal desafio

Para o advogado Fabricio Tonegutti, diretor da Mix Fiscal, o maior obstáculo não é escolher o melhor investimento — mas conseguir poupar. “O Dia Mundial da Poupança completa 101 anos num momento crítico: 76,7% das famílias estão endividadas e 67% não têm reserva de emergência”, afirma.

Tonegutti explica que a poupança hoje rende cerca de 8,4% ao ano, enquanto o Tesouro Selic e CDBs com liquidez diária entregam entre 12% e 14% líquidos. Em uma simulação, R$ 10 mil na poupança renderam R$ 657 em 2024, contra R$ 867 no Tesouro Selic e R$ 900 em CDBs, uma diferença de até 32% a mais.

Mesmo assim, ele reconhece que a poupança faz sentido em três situações:

  • Para valores muito pequenos (abaixo de R$ 100);
  • Para quem precisa de liquidez imediata;
  • E para quem está começando a formar o hábito de poupar.

Entenda como é calculado o rendimento

O analista Antônio Sanches, da Rico Investimentos, explica que o rendimento da poupança depende da taxa Selic e da Taxa Referencial (TR).

Quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, a poupança rende 0,5% ao mês + TR. Se a Selic cair abaixo desse patamar, o rendimento passa a ser 70% da taxa básica + TR.

“Hoje, com a Selic em 15%, o Tesouro Selic é a melhor alternativa para quem quer segurança, liquidez e rentabilidade maior que a poupança”, afirma Sanches.

Saques superam depósitos

Os números refletem o desinteresse crescente: a poupança registrou mais saques do que depósitos nos últimos anos. Foram R$ 87,8 bilhões em 2023, R$ 15,5 bilhões em 2024 e R$ 78,5 bilhões em 2025 até o momento.

Com a Selic mantida em 15% pelo Copom, o cenário de juros altos continua favorecendo aplicações de renda fixa, como Tesouro Direto, CDBs e fundos DI.

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