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quinta-feira, 19 de junho, 2025
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Juros vão a 15% ao ano: decisão do Copom provoca reação negativa do setor produtivo

Em meio a um cenário de incertezas políticas no Brasil e no exterior, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, na quarta-feira (18), elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, levando a Selic para 15% ao ano. Este é o maior patamar desde 2006 e, segundo analistas, a decisão reflete principalmente a preocupação com a falta de controle dos gastos públicos.

Para economistas ouvidos pelo R7, a deterioração fiscal foi determinante para o aumento. A leitura é de que o governo federal ainda não apresentou sinais concretos de ajuste das contas públicas, o que ampliou o risco de descontrole da dívida e forçou o Banco Central a agir para conter a inflação e as expectativas do mercado.

“O Banco Central até sinaliza uma pausa no ciclo de alta para avaliar os efeitos dos juros elevados até aqui. Mas deixou claro que, se o cenário não melhorar, não hesitará em voltar a subir os juros”, destacou o economista Augusto Mergulhão.

Hugo Garbe, também especialista em economia, foi ainda mais incisivo: “A decisão do Copom reflete a incapacidade do governo em conduzir de forma responsável a política fiscal do país. As medidas anunciadas pela Fazenda não são suficientes para enfrentar o problema.”

Segundo ele, o aumento da Selic é uma resposta direta ao risco crescente de descontrole fiscal, num contexto de avanço da dívida pública, aprofundamento do déficit primário e promessas de ajuste que não saem do papel.

Perspectivas para os próximos meses

A taxa de 15% ao ano valerá pelo menos até 30 de julho, quando o Copom volta a se reunir. Embora o Banco Central tenha sinalizado que pode interromper o ciclo de alta, a continuidade da política depende de uma melhora consistente no cenário fiscal.

“Sem avanços claros no controle de gastos, na redução do risco fiscal e na recuperação da confiança, os juros continuarão altos por necessidade, não por vontade”, afirmou Mergulhão.

Para Garbe, a solução passa por reformas estruturantes. “Não há taxa de juros que corrija, sozinha, a desfuncionalidade de um governo que finge perseguir metas fiscais enquanto opera em sentido contrário”, disse.

Ele criticou a falta de ações efetivas para enfrentar o problema: “O Planalto insiste em soluções paliativas e populistas que apenas empurram os problemas para frente.”

Reações do setor produtivo

A decisão do Copom foi recebida com duras críticas por entidades empresariais. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou a medida como “injustificada” e alertou para os impactos negativos sobre a economia.

“Não lidávamos com um patamar tão alto desde 2006. A irracionalidade dos juros e da carga tributária está sufocando os setores produtivos. É um contrassenso o Banco Central se manifestar contra o aumento do IOF enquanto decide elevar a Selic”, disse o presidente da CNI, Ricardo Alban.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) também se manifestou, considerando a decisão “inadmissível”. Segundo a entidade, cada nova elevação da Selic é um “golpe adicional na capacidade de produção e no crescimento sustentável do país”.

O economista Benito Salomão avalia que o impacto para os consumidores será percebido ao longo dos próximos meses. “A expectativa é que, com essa taxa de juros, a inflação convirja para a meta, mas o custo será alto para o crescimento e o consumo interno”, afirmou.

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