Parlamentar usou tribuna da Assembleia para parabenizar tribunal e questionar falta de punição para eleitores que vendem votos.
O deputado estadual Lidio Lopes utilizou a tribuna da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul nesta quarta-feira (28) para defender a decisão do Tribunal Regional Eleitoral que manteve, por 5 votos a 2, os mandatos da prefeita Adriane Lopes e da vice-prefeita Camila Nascimento. Em pronunciamento de 10 minutos, o parlamentar criticou a cultura de judicialização das eleições em Campo Grande e questionou inconsistências nas acusações apresentadas.
“Quero parabenizar o TRE de Mato Grosso do Sul pela decisão na tarde de ontem de fazer justiça eleitoral”, declarou Lidio Lopes ao iniciar sua fala. O deputado ressaltou que, ao contrário do que considera uma prática recorrente na capital, ele próprio sempre aceitou resultados eleitorais sem contestações judiciais. “Costumo descer do palanque, se ganhei, ganhei, se perdi, eu perdi, como diz, me mudar os cargos e tocar a vida”, afirmou.
Críticas à cultura de contestação eleitoral
O parlamentar demonstrou surpresa com o fato de o ex-prefeito, que em 2020 criticou a judicialização excessiva das eleições, ter se tornado um dos principais articuladores das ações contra a atual gestão municipal. “Me lembro claramente que o ex-prefeito eleito na época questionou falei as pessoas não aceitam a vitória de ninguém, a troca do que estão judicializando. O pessoal tem que aceitar que dói menos”, recordou Lidio Lopes.
Durante o pronunciamento, o deputado sugeriu que questões de gênero podem estar influenciando as contestações. “Campo Grande é uma cidade extremamente machista e principalmente por ser a primeira mulher eleita prefeita de Campo Grande, esse sentimento é muito ruim para aqueles machistas que não conseguem viabilizar e ver uma mulher tocar uma gestão”, declarou.
Análise técnica do processo
Lidio Lopes detalhou aspectos técnicos da decisão judicial, destacando que de 15 itens originalmente contestados, apenas dois foram levados ao TRE: abuso de poder religioso e econômico. Segundo o deputado, o próprio Ministério Público Federal descartou a questão do abuso religioso, reconhecendo que a prefeita mantém há mais de 20 anos vínculos com denominações evangélicas.
O parlamentar questionou especialmente o caso de Sebastião, conhecido como “Tião da Horta”, uma das principais testemunhas de acusação. “Como é que um grupo vem pedir dar dinheiro para um cidadão comprar voto para outro candidato. É no mínimo estranho”, indagou, referindo-se ao fato de a pessoa ter pedido votos para Rose Modesto, adversária de Adriane Lopes.
Inconsistências nas acusações
O deputado destacou contradições no depoimento de outra testemunha que alegou ter recebido R$ 100 em uma reunião com mil pessoas. “No mundo de hoje, quem perderia uma oportunidade em uma reunião com mil pessoas para pedir voto? É muito estranho, numa reunião que tinha mil pessoas para comprar o voto por 100 reais, não era possível que alguém não estivesse com o celular, no mínimo, gravando para dizer olha, estão distribuindo dinheiro, estão comprando voto”, argumentou.
Proposta de mudança na legislação
Lidio Lopes aproveitou o pronunciamento para defender mudanças na legislação eleitoral, especificamente quanto à punição de eleitores que vendem seus votos. “Existe o corrupto e o corruptor, se existe a compra de voto e o candidato perde o mandato, e quem vende o seu voto? E quem recebe o sufraggio? Não tem penalidade nenhuma?”, questionou.
O deputado concluiu sua fala pedindo respeito ao trabalho da gestão municipal: “Aceite que dói menos, deixe as mulheres trabalhar”. A decisão do TRE afasta definitivamente o risco de cassação dos mandatos, permitindo que a administração municipal prossiga normalmente até o final do mandato em 2028.