Campo Grande deve ganhar, em breve, o Programa Municipal de Combate ao Vício em Apostas e Jogos de Azar (ludopatia). A proposta que trata do assunto foi aprovada na sessão ordinária dessa terça-feira (27) da Câmara Municipal em regime de urgência.
A matéria objetiva promover a conscientização, combater práticas abusivas, apoiar ações de orientação psicológica aos dependentes, incentivar campanhas educativas e preventivas e mobilizar escolas, pais, responsáveis e a sociedade para discussão, entre outros pontos.
Além disso, também cria a Semana de Combate ao Vício em Apostas e Jogos de Azar, ofertando palestras, debates e outras atividades em escolas e espaços públicos para informar sobre os riscos dos jogos de azar e ludopatia.
Autor do PL, vereador Jean Ferreira (PT), justificou que a ludopatia é um grave problema de saúde pública, com efeitos devastadores na vida de indivíduos e famílias, afetando diretamente a estabilidade emocional, as finanças pessoais e os vínculos sociais.
“O crescimento das plataformas digitais de apostas tem contribuído para o alastramento silencioso dessa forma de compulsão, atingindo inclusive crianças e adolescentes, que se tornam cada vez mais vulneráveis a essa prática”, pontuou.
Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um transtorno do controle de impulsos, a ludopatia afeta milhões de pessoas em todo o mundo, sendo considerada uma das formas mais graves de vício comportamental.
Características
A principal característica da ludopatia é a incapacidade de resistir ao impulso de jogar, seja em cassinos, bingos, loterias, apostas esportivas ou jogos virtuais. O indivíduo viciado passa a priorizar as apostas em detrimento de outras áreas importantes da vida, como família, trabalho, estudos e saúde.
Outros sintomas frequentes incluem:
- Preocupação constante com o jogo: pensar o tempo todo em formas de apostar ou recuperar perdas.
- Aumento progressivo das apostas: necessidade de arriscar valores cada vez maiores para alcançar a mesma sensação de prazer.
- Mentiras e ocultação: esconder ou mentir sobre o tempo e o dinheiro gastos com jogos.
- Perda de controle: tentativas frustradas de parar ou reduzir as apostas.
- Jogos como fuga: utilizar o jogo para aliviar sentimentos de angústia, depressão ou estresse.
- Prejuízos financeiros e sociais: endividamento, conflitos familiares, perda de emprego ou afastamento de amigos.
Consequências
O vício em jogos de azar provoca graves consequências na vida do indivíduo e das pessoas próximas. As principais são:
- Dívidas e ruína financeira: muitos jogadores patológicos acumulam dívidas impagáveis, vendem bens pessoais ou recorrem a empréstimos.
- Problemas familiares: o comportamento compulsivo frequentemente gera conflitos conjugais, separações e distanciamento dos filhos.
- Comprometimento profissional: faltas ao trabalho, queda de produtividade e até demissões.
- Saúde mental e física: aumento do risco de depressão, ansiedade, abuso de substâncias, insônia e até suicídio.
- Isolamento social: vergonha e culpa fazem com que o jogador se afaste de amigos e familiares.
Tratamento
O tratamento da ludopatia envolve uma abordagem multidisciplinar, com foco no controle do comportamento compulsivo e na reestruturação da vida do paciente. As principais formas de tratamento incluem:
- Psicoterapia: a terapia cognitivo-comportamental (TCC) é a mais utilizada, ajudando o paciente a identificar e modificar padrões disfuncionais de pensamento e comportamento relacionados ao jogo.
- Grupos de apoio: iniciativas como Jogadores Anônimos (JA) proporcionam acolhimento e partilha de experiências com pessoas que enfrentam o mesmo problema.
- Medicação: em alguns casos, antidepressivos ou estabilizadores de humor podem ser indicados para tratar sintomas associados, como depressão e impulsividade.
- Educação financeira: orientação para reorganização das finanças e prevenção de novas dívidas.
- Suporte familiar: o envolvimento da família é essencial para o processo de recuperação, promovendo um ambiente de compreensão e apoio.
A importância da prevenção e do diagnóstico precoce
A prevenção da ludopatia passa pela conscientização sobre os riscos dos jogos de azar e o estímulo a comportamentos responsáveis. É fundamental identificar precocemente sinais de alerta, como o aumento progressivo das apostas e a negligência de responsabilidades, para evitar que o problema se agrave.
Em tempos de crescimento das apostas online e da popularização das casas de jogos virtuais, o debate sobre a ludopatia torna-se ainda mais necessário, especialmente entre jovens e adolescentes.
