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sábado, 27 de setembro, 2025
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Lula viaja a NY para Assembleia da ONU em meio a tensões com os EUA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarca na manhã deste domingo (21) para Nova York, onde participará da 80ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que acontece entre segunda (22) e quarta-feira (24).

Como é tradição desde 1947, o Brasil abrirá a série de discursos na terça-feira (23), seguido pelos Estados Unidos. Segundo apuração da CNN, Lula deve focar sua fala na defesa da soberania nacional, da democracia e do multilateralismo. O tema central desta edição é “Melhor Juntos: 80 anos e mais pela paz, desenvolvimento e direitos humanos”.

Relação com os EUA em crise

A viagem ocorre em um momento de forte tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos. O governo de Donald Trump impôs em agosto tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e incluiu o ministro do STF Alexandre de Moraes na lista de sancionados pela Lei Magnitsky.

A justificativa da Casa Branca está ligada à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo, em processo relatado por Moraes. Além disso, o governo americano suspendeu vistos de ministros e familiares de autoridades brasileiras, elevando o tom da disputa.

A semana que antecedeu a viagem foi marcada por dificuldades na liberação de vistos para a comitiva presidencial. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recebeu autorização para entrar nos Estados Unidos, mas com restrição de deslocamento a apenas cinco quarteirões em Nova York — medida que o levou a desistir da viagem e da participação em reuniões da OPAS, em Washington.

Primeira vez com Trump no mesmo evento

Esta será a primeira vez que Lula e Trump dividirão o mesmo espaço desde a volta do republicano à Casa Branca. Apesar disso, não há previsão de encontro reservado entre os dois. Fontes diplomáticas afirmam que nem Lula nem Trump fizeram convite para uma reunião bilateral.

Agenda paralela

Além do discurso na ONU, Lula participará de eventos paralelos. Na segunda (22), deve acompanhar a Semana do Clima de Nova York, em preparação para a COP30, que será realizada em Belém, em 2025. Ele também participará de uma reunião sobre a situação da Palestina.

Na quarta (24), o presidente brasileiro se une a líderes de cerca de 30 países no evento “Em Defesa da Democracia e Contra o Extremismo”. Diferentemente da primeira edição, realizada em 2024 com a participação dos EUA, desta vez os americanos ficaram de fora por decisão conjunta de Brasil e aliados como Chile, Espanha, Colômbia e Uruguai.

Especialistas avaliam

Para analistas, a tensão bilateral não compromete a atuação do Brasil na ONU, mas tende a gerar desconfiança a longo prazo. O cientista político Maurício Santoro avalia que este é o pior momento da relação entre Brasil e Estados Unidos em mais de 200 anos de laços diplomáticos.

Segundo ele, a tendência é que o Brasil busque maior aproximação com China e Índia, além de fortalecer alianças multilaterais. “É hora de diversificar parcerias e investir em acordos comerciais para reduzir a dependência em relação ao mercado americano”, afirma Santoro.

Protagonismo na COP30

O Brasil também aproveitará a Assembleia para acelerar negociações da COP30. O governo convocou uma reunião presencial com os países participantes, com o objetivo de destravar impasses e avançar em temas como financiamento climático de US$ 1,3 trilhão e transição energética justa.

Apesar do protagonismo, os preparativos para a conferência enfrentam obstáculos logísticos em Belém, como a escassez de hotéis, além da hostilidade do governo Trump em relação à pauta climática.

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