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quinta-feira, 25 de abril, 2024
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MIS exibe premiado filme ‘Madalena’ gravado em MS retratando violência com LGBTQ+ no país

Sensível. Transparente. Belo. Num ritmo lento, com imagens belíssimas das paisagens de Bonito, Dourados e Maracaju, o filme ‘Madalena’ foi exibido, em sessão extra de fim de ano, na noite desta quarta-feira (8), no MIS (Museu da Imagem e do Som), no centro de Campo Grande. A que se ressaltar que o filme foi produzido e filmado em Mato Grosso do Sul, nas cidades citadas, não sendo imagens de montagem dos locais Sul-matogrossense. A estória é o primeiro longa-metragem de ficção do cineasta Madiano Marcheti, que retrata e denuncia a violência constante no Brasil, como o país que mais mata a população LGBTQIA+ no mundo.

O filme que ressalta a transfobia, no mês de setembro, disputou o prêmio de melhor produção latino-americana no Festival de Cinema de San Sebastián, na Espanha (veja histórico abaixo). Ele narra a história do desaparecimento da transexual Madalena, em uma região conservadora do país. A partir disso, o roteiro mostra as reações das pessoas que a conhecem, que vão desde a indiferença até a presunção de que ela está morta, por esta ser uma “hipótese natural” para as pessoas transexuais, explica Marcheti.

O cineaasta desenvolveu a estória, tendo o ponto de partida o corpo de Madalena, encontrado em uma plantação de soja. Na sequência a trama acompanha a história de três jovens – Luziane (Natália Mazarim), Bianca (Pamella Yule) e Cristiano (Rafael de Bona), que vivem contextos diferentes em uma mesma cidade. Embora não se conheçam, o espírito de Madalena que esvoaça sobre a cidade, torna-se um elo entre os três.

A atriz Chloe Milan, que fez o papel de Madalena, disse que o seu personagem foi “um presente”. “É muito gratificante trazer essa história para o público, retratar a nossa história como mulher. Mostra a realidade que a mulher trans enfrenta todos os dias. Eu trabalho durante o dia, tenho uma vivência diurna. Claro que o preconceito existe, mas se a gente não der a cara a tapa não vamos servir de exemplo para as outras. Aos poucos a gente vai seguindo”.

Filme de gênero

MIS exibe premiado filme 'Madalena' gravado em MS retratando violência com LGBTQ+ no país

A atriz Natalia Mazarim, que fez o papel da ‘Luziane’, uma das protagonistas, também esteve presente na exibição do filme no MIS. “A Luziane é uma menina que vive numa cidade no interior do Centro-Oeste, que faz vários bicos para sobreviver. Ela se relaciona com a Madalena, a personagem principal, por meio de um trabalho que sua mãe fez para ela. A Luziane sente essa falta da Madalena mas não faz nada a respeito do sumiço. Esta omissão Cis é o que mata. O filme mostra o quanto a monocultura da soja impacta na economia, não há diversidade ecológica. Esta monocultura também se refere ao que é ‘mono’, uma indiferença, uma falta de empatia ao que é ‘multi’, à falta de solidariedade e aceitação ao que é diverso”. Cisgênero (Cis) é o termo utilizado para se referir ao indivíduo que se identifica, em todos os aspectos, com o seu “gênero de nascença”.

Em outras palavras: na pessoa cisgênero existe concordância entre a identidade de gênero (a forma como a pessoa se vê) e o gênero que lhe foi conferido ao nascer.

San Sebastián

Festival Internacional de Cinema de San Sebastián (em castelhano: Festival Internacional de Cine de San Sebastián; em basco: Donostiako Nazioarteko Zinemaldia), comumente chamado de forma reduzida como Festival de San Sebastián, é um dos mais prestigiados e famosos festivais de cinema do mundo. Ele se enquadra na categoria máxima (A) acreditada pela Federação Internacional de Associações de Produtores Cinematográficos (FIAPF). O festival acontece todos os anos no mês de setembro, na cidade espanhola de San Sebastián. Sua primeira edição foi em 21 de setembro de 1953 e o grande premiado foi o filme “La guerra de Dios” de Rafael Gil.

O Festival de San Sebastián é o mais importante festival de cinema da Espanha, assim como um dos mais antigos da Europa. Ao longo da história, o festival foi cenário de acontecimentos de importância e interesse de dimensão internacional, como a estreia internacional de Vertigo e a estreia mundial de Intriga Internacional, ambos de Alfred Hitchcock. Em meio século de existência, o festival proporcionou o descobrimento de novos talentos do mundo do cinema

Superação e resultados

Para Natália, é “muito incrível” uma produção como “Madalena” ter sido produzida num período de escassez de incentivos culturais e da atual política nacional que o país enfrenta. “É uma vitória esse filme sair nesse contexto atual. Muito significativo isso. Existia uma tensão muito grande por conta das eleições, em 2018, época em que o filme foi feito. Sofremos represália por um grupo local por conta da temática do filme. E ter um elenco regional é um ponto forte do filme. Aqui temos atores, estamos aqui e somos tão competentes quanto os artistas do Sudeste do Brasil”.

MIS exibe premiado filme 'Madalena' gravado em MS retratando violência com LGBTQ+ no país

Os atores, produtor cultural e dramaturgo Marcelo Leite e Edner Gustavo foram conferir no MIS o lançamento do filme. Eles acompanham o diretor Madiano Marcheti nas redes sociais e se interessaram pela produção.

“Ontem mostraram o trailer do filme, ficamos com muita vontade de ver. Estamos orgulhosos por ser uma produção local e que está viajando o mundo, está sendo premiado. É super importante nesse momento em que estamos vivendo abordar este tema do filme e colocar como protagonista uma mulher trans. Aqui nunca assistimos a um suspense que tenha uma pegada assim”.

Para a coordenadora do Museu da Imagem e do Som, Marinete Pinheiro, é muito gratificante abrir o espaço do museu para a exibição de um filme produzido aqui. “A gente sempre foi um espaço de lançamento. Tivemos um contato com a distribuidora do longa metragem, a Vitrine, que fez o pedido, que vai ao encontro da proposta do MIS. Aí decidimos fazer essa experiência de reabrir à noite, as pessoas estão perguntando sobre a possibilidade de reabertura do museu. Acredito que as atividades recomecem pra valer no próximo ano”.

Com informações Ascom FCMSFotos: Marinete Pinheiro e Karina Lima

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