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segunda-feira, 2 de junho, 2025
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MS cumpre lei Maria da Penha, mas não impede recorde de feminicídios em maio

Uma pesquisa divulgada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) acende um alerta sobre a eficácia da proteção às mulheres vítimas de violência no Brasil. Em 2024, a média nacional para a concessão de medidas protetivas foi de quatro dias, ultrapassando o limite legal de 48 horas, conforme estabelece a Lei Maria da Penha, em vigor há quase 20 anos.

Apesar do descumprimento na maioria dos estados, Mato Grosso do Sul se destaca por cumprir o prazo, com uma média de apenas dois dias entre o pedido e a concessão da medida. Além disso, o estado tem uma das maiores taxas de atendimento do país, com 95% dos pedidos deferidos, superando a média nacional, que é de 92%.

No entanto, 13 estados brasileiros não cumprem o prazo de 48 horas. São eles: Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Ceará, Minas Gerais, Espírito Santo, Santa Catarina, Paraíba, Alagoas, Piauí, São Paulo, Pernambuco, Sergipe e Bahia — este último apresenta a pior situação, com uma média de 16 dias para a emissão da medida.

De acordo com o levantamento, 598.457 medidas protetivas foram concedidas no Brasil em 2024, sendo 14.558 em Mato Grosso do Sul, que ocupa a 12ª posição entre os estados com menor número de concessões.

A Lei Maria da Penha prevê que as medidas podem ser aplicadas isoladamente ou em conjunto, de acordo com a gravidade do caso. Em 2024, a penalidade para quem descumpre a medida ficou mais rigorosa: passou de 3 meses a 2 anos de detenção para 2 a 5 anos de reclusão.


Maio: o mês mais violento para mulheres em MS nos últimos 10 anos

Apesar dos avanços no cumprimento da lei, Mato Grosso do Sul vive um cenário preocupante no combate à violência contra a mulher. Em 2025, o estado já registra 14 feminicídios, sendo seis apenas no mês de maio, que se tornou o mais letal da última década para as mulheres sul-mato-grossenses.

MS cumpre lei Maria da Penha, mas não impede recorde de feminicídios em maio
Número de feminicídios registrados no mês de maio em Mato Grosso do Sul (MS) entre os anos de 2015 e 2025

O número supera o recorde anterior, de fevereiro de 2021, quando cinco mulheres foram mortas. A sequência de crimes evidencia que, embora haja agilidade na concessão de medidas protetivas, elas, sozinhas, não estão sendo suficientes para conter a escalada da violência extrema.


Seis feminicídios em maio: os casos que chocaram MS

  • 14 de maio – Cassilândia:
    Thácia Paula Ramos de Souza, de 39 anos, foi encontrada morta no rio Aporé, três dias após desaparecer. O marido é suspeito de ter cometido o crime.
  • 14 de maio – Itaquiraí:
    Simone da Silva, de 35 anos, foi morta a tiros por um jovem de 22 anos, após um boato envolvendo a vítima e o pai do autor. O crime ocorreu dentro da residência da vítima.
  • 23 de maio – Coronel Sapucaia:
    Na Aldeia Taquaperi, Olizandra Vera Cano, de 26 anos, foi morta a facadas pelo marido durante uma discussão sobre o jantar. O autor foi preso em flagrante.
  • 25 de maio – Angélica:
    Graciane de Sousa Silva, de 40 anos, foi agredida pelo companheiro e morreu na manhã do dia seguinte. Antes de morrer, ela conseguiu informar a um policial que era vítima de violência doméstica constante.
  • 26 de maio – Campo Grande:
    Vanessa Eugênio Medeiros, de 23 anos, e sua filha, Sophie Eugenia Borges, de apenas 10 meses, foram encontradas carbonizadas em uma área de mata no bairro Indubrasil. O autor, de 21 anos, marido e pai das vítimas, confessou o crime. Ele alegou que desejava se separar, mas não queria pagar pensão, e, após cometer o duplo assassinato, disse que dormiu melhor porque havia “se livrado de um problema”. A polícia caracterizou o crime contra a bebê como feminicídio, motivado por ódio à condição feminina.

O desafio que persiste

Os números reforçam que, embora Mato Grosso do Sul cumpra os prazos para a concessão de medidas protetivas, o combate à violência contra a mulher vai muito além da resposta do Judiciário. É necessário fortalecer as redes de apoio, garantir mais políticas públicas de prevenção, assistência psicológica, social e econômica, além de promover uma transformação cultural que desfaça o ciclo da violência.


Denuncie. Proteja. Salve vidas.

Se você é vítima ou conhece alguém que esteja sofrendo violência doméstica, não se cale. Procure ajuda. Há dispositivos legais que podem proteger você.

Canais de denúncia:

  • 📞 Ligue 180 – Central de atendimento à mulher. Atende 24 horas por dia, de forma gratuita e sigilosa.
  • 📞 Ligue 190 – Polícia Militar para casos de emergência.
  • 📱 Aplicativo Clique 180 – Informações, orientações e denúncia online.
  • 🏠 Casa da Mulher Brasileira – Localizada na Rua Brasília, Lote A, Quadra 2 – Jardim Imá, em Campo Grande, funciona 24 horas, todos os dias.
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