Em depoimento emocionado, a fotógrafa Ariane de Lima Gonçalves da Cunha fez um apelo por medidas contra a violência obstétrica e a negligência, na Tribuna da sessão ordinária desta terça-feira, dia 10. Ela relatou as dores com a perda de seu filho Dante, dando voz ainda aos familiares de outros bebês, cobrando providências para que tragédias semelhantes não se repitam.
Ariane é mãe de Dante, que faleceu em outubro de 2021. “Entrei na Maternidade Cândido Mariano carregando meu filho no ventre, cheia de sonhos e vida. Saí de lá com meus braços vazios. Meu filho não sobreviveu por falta de vaga em UTI, por negligência, por omissão”, desabafou. Ela contou que carregou sua dor em silêncio durante um tempo, mas, nos últimos meses, o eco de sua dor encontrou outras vozes.
A fotógrafa recordou o caso de Ravi, que teve negado seu direito de nascimento seguro em outubro, pois havia a indicação de cesariana, mas a escolha foi a violência que resultou em múltiplas fraturas. Ela citou ainda a dor da família do Levi, pela demora no atendimento e troca de plantão que lhe custou a vida. Falou ainda do caso de Antônio Gabriel, que nasceu saudável, mas seus familiares viram o filho ser abandonado pelo médico.
“Hoje não estou aqui apenas como a mãe do Dante. Estou como a voz do meu filho e como eco da voz de Ravi, de Levi, de Antônio Gabriel, de Kalebe e de tantos outros bebês cujos nomes não estão manchetes, mas estão gravados na alma de suas famílias”.
“Não somos números e estatísticas. Somos a prova de que o sistema falhou e continua falhando”, afirmou. Ela criticou a ocorrência de padrão de partos forçados, negligência e a sugestão cruel de que as mães podem ter outro filho, como se a dor fosse descartada.
Ela sugeriu três pontos principais. Primeiramente a justiça, com investigação rigorosa, para cada um desses casos, não apenas internamente pela Maternidade, mas com participação do Ministério Público Estadual, da Câmara Municipal e dos Conselhos de Medicina. “Quem falhou? Quem foi negligente? Quem se omitiu?”, questionou.
Outro ponto é a necessidade de protocolos, para que as decisões sejam baseadas na ciência e na segurança da mãe e do bebê. O terceiro ponto é a necessidade de proteção à mãe, que está em um momento vulnerável. “Propomos canal de denúncia em tempo real, conectado a uma ouvidoria externa e independente. Mãe precisa ter a quem recorrer antes que desfecho seja trágico”.
Ela fez um apelo por mudanças: “meu filho não teve chance de crescer. A morte dele deve ser a semente para salvar outras vidas. Transformamos nosso luto em luta”.
O vereador André Salineiro, autor do convite para Ariane falar na Tribuna da Casa de Leis, falou da dor em cada mensagem que recebeu dos familiares das vítimas de violência obstétrica. “Vocês estão se unindo, em um movimento apto por essa causa. Que essas mortes desastrosas sirvam para que isso não aconteçam com outros anjinhos”, afirmou. Ele pediu ainda a sensibilidade para os vereadores juntarem forças por essa causa.
O vereador Epaminondas Neto, o Papy, presidente da Câmara Municipal, salientou que a Casa de Leis está aliada a esse movimento e a importância de os casos não ficarem esquecidos. “Coloco a Casa à disposição para dar visibilidade e força a essa pauta, a essa luta, e convoco vereadores a unirem forças e levarem esse debate o mais longe possível”.











