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sábado, 10 de maio, 2025
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Presidente da Câmara é pressionado a recorrer de decisão do STF que limita efeitos de resolução sobre ação penal

Primeira Turma do STF formou maioria para derrubar parte de resolução aprovada pela Câmara dos Deputados

Lideranças da oposição na Câmara dos Deputados intensificam a pressão sobre o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), para que recorra da decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que derrubou, em parte, uma resolução aprovada pelo Legislativo. A medida sustava o andamento da ação penal que apura uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, da qual o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) é um dos réus.

A resolução, aprovada por 315 deputados nesta semana, visava suspender integralmente a ação sob o argumento de que a Constituição autoriza o trancamento de processos penais contra parlamentares. No entanto, o texto foi interpretado como uma manobra que poderia beneficiar não apenas Ramagem, mas também outros acusados que não possuem mandato, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O relator do caso no STF, ministro Alexandre de Moraes, destacou que a imunidade parlamentar prevista no artigo 53 da Constituição se aplica apenas ao congressista e não se estende a demais investigados. Seu voto foi acompanhado por Cristiano Zanin, Flávio Dino e Luiz Fux. O julgamento segue em plenário virtual até terça-feira (13), e resta apenas o voto da ministra Cármen Lúcia.

Por maioria, a Primeira Turma decidiu que Ramagem terá parte da ação suspensa — especificamente os crimes atribuídos a ele após sua diplomação, como dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. No entanto, ele seguirá respondendo por tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e associação criminosa armada.

A reação da oposição foi imediata. O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), criticou duramente o STF. “O voto de Alexandre de Moraes é um tapa na cara da democracia. 315 deputados votaram pelo trancamento da ação penal. O STF ignora. Quando um ministro humilha a Câmara, ele afronta o povo brasileiro”, escreveu em suas redes sociais, cobrando uma resposta de Hugo Motta: “Vai defender a soberania do Parlamento ou assistir calado?”

O líder da oposição na Casa, Luciano Zucco (PL-RS), também protestou: “O Parlamento não aceitará ser reduzido a um espectador passivo de suas próprias atribuições.”

Para os ministros do STF, a decisão da Câmara extrapolou os limites constitucionais. Flávio Dino afirmou que houve “indevida ingerência” do Legislativo sobre o Judiciário e alertou que, em regimes tiranos, é comum um poder concentrar prerrogativas excessivas.

Especialistas consultados pelo portal R7 consideram que a resolução da Câmara é inconstitucional. O advogado André Perecmanis, professor de Direito Penal na PUC, avaliou que a decisão tem mais peso político que jurídico. “Representa uma usurpação de competência”, disse. Para ele, o STF dificilmente reverterá a decisão, ainda que a Câmara recorra.

Já a constitucionalista Vera Chemin vê nuances. Embora reconheça que a jurisprudência do STF restringe a imunidade parlamentar a crimes cometidos após a diplomação, ela defende que o Supremo deveria respeitar a decisão do Legislativo como forma de preservar a independência entre os Poderes. “Ninguém ficaria impune. Apenas daria o tempo em que a pessoa exerce o mandato”, afirmou. A especialista também sugeriu que a ação penal fosse desmembrada entre réus com foro privilegiado e os demais.

O impasse aprofunda a tensão entre Legislativo e Judiciário e pode acelerar projetos na Câmara que propõem limitar o poder do STF — tema que ganha força entre parlamentares da base oposicionista.

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