Salário mínimo terá aumento de R$ 103 em 2026: veja como foi calculado e se há ganho real

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Salário mínimo de 2026 ficará em R$ 1.621 (Foto: Marcello Casal/Agência Brasil)

Cálculo considera inflação e crescimento do PIB; limite fiscal impede reajuste maior

O salário mínimo será reajustado para R$ 1.621 a partir de janeiro de 2026, anunciou o Ministério do Planejamento e Orçamento nesta quarta-feira (10). O valor representa um aumento de R$ 103 em relação ao piso atual de R$ 1.518, equivalente a reajuste de 6,79%. O impacto no bolso do trabalhador, porém, só será sentido no pagamento de fevereiro.

O novo piso leva em conta dois fatores centrais: a inflação acumulada pelo INPC, que registra alta de 4,18% nos últimos 12 meses, e o crescimento do PIB de 2024, revisado pelo IBGE para 3,4%. Ambos integram a fórmula de valorização do salário mínimo adotada pelo governo.

O reajuste afeta não apenas os trabalhadores que recebem o piso nacional, mas também aposentadorias do INSS, seguro-desemprego, abono salarial e outros benefícios indexados ao mínimo.

Arcabouço fiscal limita ganho real

Mesmo com a política de valorização, o arcabouço fiscal impõe limite ao ganho real — aumento acima da inflação — entre 0,6% e 2,5%. Pelos cálculos técnicos, o valor exato chegaria a R$ 1.620,99, mas o arredondamento previsto em lei elevou o piso para R$ 1.621.

Houve ganho real? Especialistas explicam

Segundo Renan Silva, professor de economia do Ibmec Brasília, a reposição da inflação mantém o poder de compra, enquanto o ganho real amplia a capacidade de consumo. “A reposição da inflação evita perda do poder de compra. Já o ganho real é o aumento acima da inflação, permitindo adquirir mais bens e serviços”, afirma.

Ele alerta que o impacto deve ser observado no cotidiano. “O ganho real em termos de cesta básica e serviços é mais relevante. O percentual de reajuste pode soar abstrato.”

Já o contador Vanderson Aquino lembra que o ganho real depende de fatores como produtividade e sustentabilidade fiscal. “O salário mínimo afeta despesas públicas. Para que o ganho seja sustentável, é preciso crescimento econômico consistente.”

Ambos especialistas concordam que o reajuste não garante proteção total contra a inflação futura. Se dezembro registrar alta maior que a prevista, parte da perda — referente apenas àquele mês — será compensada somente no reajuste de 2027.

Valor pode mudar? Chance é remota

Para Renan Silva, alterações são improváveis. “O valor já foi confirmado pelo Ministério do Planejamento e deve ser formalizado por Medida Provisória. Em geral, é esse o número que entra em vigor em 1º de janeiro.”

O limite imposto pelo arcabouço fiscal também reduz espaço para mudanças substanciais.

Impacto no dia a dia

Com o novo piso, mais de 25 milhões de pessoas que recebem salário mínimo diretamente ou por meio de benefícios públicos terão aumento a partir de fevereiro de 2026. O reajuste também deve influenciar contratos, pisos estaduais e negociações coletivas em diversos setores.

Enquanto isso, a discussão sobre o poder de compra do trabalhador e os efeitos da inflação seguirá ditando o tom do debate econômico ao longo do próximo ano.