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sexta-feira, 19 de abril, 2024
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Secretária contradiz Pazuello, defende cloroquina e é contestada

Em mais de seis horas de depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (25), a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, defendeu por diversas vezes o uso da cloroquina e admitiu que o Ministério da Saúde orientou o uso do medicamento no combate ao coronavírus. A cloroquina, tradicionalmente usada em casos de malária, já teve a ineficácia para tratamento de Covid cientificamente comprovada. Entidades médicas, entre as quais a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Infectologia, desaconselham a adoção do medicamento.

Mayra Pinheiro, que é pediatra, fez críticas à OMS, dizendo que a organização já fez recomendações “condenáveis” e “falhas”. Segundo ela, os países – e o Brasil – não são obrigados a seguir as orientações da entidade.

Para o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), a secretária entrou em contradição e mentiu à comissão. Mayra Pinheiro reagiu ao ser acusada pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE) de ter mentido. “Eu peço respeito. Está me acusando de mentirosa, me respeite, senador”, afirmou.

À frente da Secretaria de Gestão do Trabalho, Mayra Pinheiro é responsável pela qualificação e capacitação dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS). Durante o depoimento, ela se disse favorável a medidas de prevenção ao coronavírus, como o uso de máscaras e a vacina, e contrária à chamada imunidade de rebanho. Ela criticou o “lockdown” e defendeu a reabertura de escolas.

Médico mandar e paciente ter livre arbítrio

A secretária defendeu a autonomia médica e o “livre arbítrio” dos profissionais e de seus pacientes durante os tratamentos. A posição da secretária foi criticada por senadores.

“A senhora é médica e sabe que essa autonomia médica tem um limite. Esse limite passa pela bioética, passa pela vida. Infelizmente, a senhora está prestando um desserviço no Brasil no momento tão grave que nós estamos realmente enfrentando que é o período de pandemia”, afirmou a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA).

“Essa insistência de permanecer no erro não é virtude, doutora, é defeito de personalidade. Não é da senhora, não, eu estou me referindo até ao presidente da República. Eu digo sempre que os homens erram e os grandes homens – ou as grandes mulheres – reconhecem e corrigem os seus erros, para não começarem a errar permanentemente e matar as pessoas”, disse o senador Otto Alencar (PSD-BA).

Cloroquina

Aos senadores, Mayra Pinheiro, apelidada de “Capitã Cloroquina” em redes sociais, defendeu o remédio na fase de replicação viral, no início da doença. Ela confirmou que encaminhou ofício à Secretaria de Saúde de Manaus indicando a cloroquina entre os medicamentos, ressaltando que havia “comprovação científica sobre o papel das medicações antivirais orientadas pelo Ministério da Saúde”. No ofício, a secretária reforçou que seria “inadmissível” a não adoção da orientação.

No início deste ano, Manaus enfrentou um colapso no sistema de saúde após a explosão de casos de Covid e o desabastecimento de oxigênio hospitalar. Pacientes morreram pela falta do insumo. Pouco antes do colapso, a secretária esteve em Manaus e defendeu o chamado tratamento precoce.

Segundo ela, o Ministério da Saúde não teve “nenhuma responsabilidade” pelo episódio. “A responsabilidade da doença é o vírus”, pontuou. Conforme a secretária, não houve por parte do ministério uma “recomendação” para o uso da cloroquina, mas uma “orientação”

“É preciso que nós deixemos claro que o Ministério da Saúde nunca indicou tratamentos para a Covid. O ministério criou um documento juridicamente perfeito que é a Nota Orientativa nº 9, que depois se transformou na Nota Orientativa nº 17, onde nós estabelecemos doses seguras para que os médicos brasileiros, no exercício da sua autonomia, pudessem utilizar esses medicamentos com o consentimento dos seus pacientes e de acordo com o seu livre arbítrio. Foram essas as nossas orientações”, afirmou.

“Se o senhor me perguntar o que os médicos brasileiros e os médicos do mundo, dos países que vêm fazendo esse tipo de tratamento “off label” ou uso compassivo, utilizaram como referencial, eu trouxe aqui e deixo à disposição dos senhores mais de 2,4 mil artigos impressos que referendam as metanálises hoje existentes no mundo, mostrando as evidências que todos nós queremos”, acrescentou.

Ela foi questionada diversas vezes sobre a atuação da pasta, e reforçou que não foi uma recomendação, mas uma instrução. “Hoje, tem sido um festival de figuras de linguagem”, ironizou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI.

A secretária argumentou ainda que há estudos da cloroquina inclusive para a utilização entre crianças. “Só que a gente usa em determinados caso, não de forma indiscriminada”, ponderou.

Manaus

No depoimento, Mayra Pinheiro contradisse o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Segundo ela, Pazuello soube do desabastecimento de oxigênio em Manaus em 8 de janeiro deste ano.

À CPI na semana passada, o ex-ministro sustentou que apenas teve conhecimento da situação na noite do dia 10 de janeiro. “Eu estive em Manaus até o dia 5 [de janeiro]. O ministro teve conhecimento do desabastecimento de oxigênio em Manaus creio que no dia 8, e ele me perguntou: ‘Mayra, por que você não relatou nenhum problema de escassez de oxigênio?’”, afirmou a secretária.

Em janeiro deste ano, o número de internações por Covid disparou na cidade, as unidades de saúde ficaram superlotadas, e pacientes morreram por falta de oxigênio. Diante do colapso de saúde em Manaus, o ex-ministro foi ao Amazonas em 11 de janeiro, quando anunciou um plano de contingência.

TrateCov

Mayra Pinheiro também apresentou uma versão diferente ao dar explicações sobre o TrateCov, plataforma virtual do governo que indicava o tratamento precoce para pacientes após eles informarem os sintomas – sequer era necessário exame de confirmação da doença.

Ao depor, Pazuello apontou a secretária como responsável pelo desenvolvimento do aplicativo. O ex-ministro disse, porém, que a plataforma não chegou a ser oficialmente lançada e que um hacker havia “roubado” o TrateCov e jogado uma versão incompleta na rede.

A TV Brasil, que pertence ao governo, porém, divulgou o lançamento e entrevistou médicos que diziam já fazer o uso do aplicativo. A secretária negou a autoria do aplicativo e disse que foram os técnicos da secretaria que o desenvolveram.

Ela também disse que não houve ataque hacker nem modificação da plataforma. Segundo afirmou, o que aconteceu foi uma “extração indevida de dados”. Na versão da secretária, um jornalista teve acesso ao aplicativo e o jogou na rede, usando informações fora de contexto.

Fonte: Portal G1

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