Faltam apenas seis dias para que entrem em vigor as tarifas de 50% aos produtos brasileiros
Na tentativa de evitar prejuízos bilionários para a economia brasileira, uma comitiva com oito senadores desembarcou neste domingo (27) para os Estados Unidos. O grupo busca ampliar o diálogo com congressistas e empresários norte-americanos diante do chamado “tarifaço” — o aumento de 50% sobre as exportações brasileiras, anunciado pelo presidente Donald Trump e previsto para entrar em vigor no dia 1º de agosto.
A missão parlamentar acontece em meio a um cenário de desgaste diplomático. De acordo com integrantes da comitiva, duas cartas enviadas pelo governo brasileiro à Casa Branca seguem sem resposta. A avaliação é de que o Brasil está isolado nas tratativas, e o objetivo da viagem é justamente reforçar os canais de interlocução, mostrando disposição política para encontrar um entendimento.
“Apesar dos esforços do Itamaraty, não há por parte do governo americano essa boa vontade. Eles não têm respondido à diplomacia”, afirmou o senador Carlos Viana (Podemos-MG), após reunião com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, antes do embarque.
A agenda oficial da missão nos EUA terá início nesta segunda-feira (28) e se estenderá até quarta-feira (30), dois dias antes do início da vigência das novas tarifas. Os parlamentares devem se reunir com senadores e deputados norte-americanos, além de representantes do setor privado e entidades ligadas ao comércio internacional.
Impacto bilionário e setores afetados
Caso a tarifa adicional seja mantida, os efeitos sobre a economia brasileira devem ser significativos. Estimativas apontam para uma perda de até US$ 5,8 bilhões apenas no agronegócio. Outros setores que também devem ser atingidos incluem petróleo bruto, minério de ferro, aço, máquinas e aeronaves.
O aumento das tarifas, anunciado unilateralmente por Trump, é visto como uma medida protecionista que pode desencadear um “efeito dominó”, com potenciais retaliações e reflexos negativos nas relações comerciais do Brasil com outros parceiros internacionais.
Congresso dividido e clima político acirrado
No Brasil, o anúncio das tarifas aprofundou divisões políticas no Congresso Nacional. Deputados ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, como Sargento Fahur (PSD-PR) e Delegado Caveira (PL-PA), chegaram a levantar uma bandeira com o nome de Trump em uma coletiva de imprensa, em apoio ao republicano. A ação provocou reação imediata de colegas parlamentares, expondo a falta de consenso até mesmo dentro do PL.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, também tem gerado controvérsias. Desde março nos Estados Unidos, ele participou de reuniões com representantes do governo norte-americano, mas não houve sinais de sucesso em frear a adoção das tarifas.
Enquanto isso, deputados da base governista articulam a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar supostas operações financeiras suspeitas no mercado de câmbio no mesmo dia do anúncio das tarifas, em 9 de julho. De acordo com relatos, R$ 6,6 bilhões teriam sido movimentados em operações com dólar antes da divulgação da medida por Trump.
A possível CPI deve ser formalmente discutida após o fim do recesso parlamentar, em agosto.
Isolamento diplomático
A missão da comitiva no exterior evidencia o esforço do Legislativo para preencher lacunas deixadas pela diplomacia oficial, que não tem conseguido obter respostas dos EUA. Para os senadores, a retomada do diálogo é urgente para preservar o comércio exterior brasileiro e evitar maiores prejuízos econômicos e institucionais.
“É uma questão que ultrapassa partidos. Precisamos unir esforços para proteger os interesses do Brasil”, afirmou um dos integrantes da missão.
A movimentação diplomática e política segue intensa nos próximos dias, com expectativas sobre possíveis desdobramentos até a entrada em vigor das tarifas, na próxima quinta-feira (1º).