A escalada das tensões entre Irã e Israel já começa a provocar efeitos no mercado global, com destaque para a disparada no preço do petróleo. Nesta semana, o barril do tipo Brent ultrapassou a marca dos US$ 76 (cerca de R$ 418), registrando alta de mais de 4% e refletindo o temor de que o conflito afete rotas estratégicas de exportação no Oriente Médio.
Embora o choque de oferta ainda seja considerado temporário por analistas, especialistas já alertam para possíveis impactos na economia brasileira caso a crise se prolongue por mais de um mês. Segundo Roberto Dumas, professor da FIA Business School, o cenário pode desencadear uma alta generalizada de preços no Brasil.
“Se continuar, o efeito pode ser bem mais complicado. O Irã exporta ureia, usada como fertilizante no agronegócio. O preço do petróleo vai aumentar, assim como o da gasolina, do frete e dos alimentos — ou seja, pressiona a inflação de forma generalizada”, explica o economista.
Riscos logísticos no Oriente Médio
Entre os principais gargalos logísticos em risco estão o Estreito de Ormuz — por onde passa cerca de 30% de todo o petróleo transportado por mar no mundo —, além de outras rotas críticas, como o Canal de Suez e o Mar Vermelho, ambos já afetados por tensões paralelas.
A preocupação não se limita aos combustíveis. Com os custos de transporte e produção em alta, toda a cadeia de preços pode sofrer efeito dominó. “Com fretes mais caros e estoques mais baixos, as empresas vão evitar operar no limite. O cenário beligerante torna os gargalos logísticos ainda mais críticos, e isso acaba chegando ao consumidor na prateleira do supermercado”, afirma Dumas.
Petrobras e o dilema da política de preços
Apesar de o Brasil ser autossuficiente na produção de petróleo, a Petrobras ainda depende de importações para atender o mercado interno de derivados, como a gasolina. Segundo Dumas, cerca de 30% da gasolina consumida no país vem do mercado externo, o que limita a capacidade do governo de segurar os preços.
“A Petrobras não é autossuficiente em gasolina. Se o governo insistir em segurar artificialmente os preços, os importadores saem do mercado, e pode faltar gasolina”, alerta o especialista.
Além do risco de desabastecimento, o economista chama a atenção para o dilema fiscal. Caso o governo opte por conter os reajustes para evitar impacto imediato na inflação, terá de arcar com o custo fiscal da decisão, o que pode pressionar ainda mais as contas públicas.
“O Brasil já opera com déficit de 7,7%. Se a Petrobras deixa de distribuir dividendos para segurar os preços, o Tesouro perde receita e precisa compensar com mais imposto ou corte de gastos. E isso também gera alta na taxa de juros, seja por via da inflação ou da percepção de risco fiscal”, explica.
Juros e inflação: cenário desafiador
Na avaliação de Dumas, o cenário atual reduz a margem para cortes na taxa básica de juros (Selic) no curto prazo e pode levar a uma manutenção de juros mais altos por mais tempo.
“Ou a alta do petróleo leva ao aumento da Selic ou a uma inclinação maior da curva de juros. Não tem por onde correr”, conclui o economista.