16.8 C
Campo Grande
segunda-feira, 21 de julho, 2025
spot_img

Trump trava o agro: tarifa ameaça café, carne e suco de laranja do Brasil

A recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados ao país norte-americano acendeu um alerta no setor do agronegócio nacional. De acordo com análise do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, a medida pode provocar forte impacto nas receitas do setor, com desequilíbrios no mercado interno e pressão negativa sobre os preços pagos ao produtor.

Entre os segmentos mais afetados estão os de suco de laranja, café, carne bovina e frutas frescas, que juntos representam uma fatia significativa das exportações agroalimentares do Brasil aos EUA.

Suco de laranja sob maior risco

O produto mais sensível ao tarifaço, segundo os pesquisadores do Cepea, é o suco de laranja. Atualmente, já incide sobre ele uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada, e o acréscimo de até 50% sobre esse valor pode comprometer a competitividade do produto no mercado norte-americano, o segundo principal destino das exportações brasileiras.

Os Estados Unidos importam cerca de 90% do suco que consomem, sendo que 80% desse volume vêm do Brasil. A decisão americana ocorre justamente em um momento de boa safra nos principais polos produtores, como São Paulo e Triângulo Mineiro, com projeção de 314,6 milhões de caixas para a safra 2025/26, crescimento de 36,2% em relação ao ciclo anterior. Com o mercado dos EUA sob risco, há possibilidade de acúmulo de estoques e queda nas cotações internas, segundo a pesquisadora Margarete Boteon.

Café: risco à cadeia global de abastecimento

Outro setor diretamente atingido é o do café, especialmente da variedade arábica, essencial para a indústria de torrefação norte-americana. Os EUA são os maiores consumidores de café do mundo e importam 25% da produção brasileira.

“Como os Estados Unidos não produzem café, a taxação compromete toda a cadeia local — de cafeterias a redes varejistas”, alerta Renato Ribeiro, pesquisador do Cepea. Com a incerteza no ar, produtores brasileiros têm adiado grandes vendas, aguardando definição sobre o cenário tarifário.

Carne bovina: movimentações estratégicas e novas rotas

No mercado da carne bovina, os EUA são o segundo maior comprador, atrás apenas da China. As exportações americanas representam 12% do total brasileiro, com destaque para os estados de São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul. Em março e abril, empresas norte-americanas chegaram a importar volumes recordes — acima de 40 mil toneladas por mês —, o que pode ter sido uma estratégia para formar estoques diante da expectativa do aumento tarifário.

Em junho, no entanto, o volume enviado aos EUA caiu, enquanto aumentaram os embarques para a China e outros parceiros, sinalizando que os frigoríficos brasileiros estão buscando diversificar seus destinos.

Frutas frescas: manga e uva em alerta

No setor de frutas frescas, o impacto imediato recai sobre a manga, cuja janela de exportação aos EUA começa em agosto, e sobre a uva, com safra relevante a partir da segunda quinzena de setembro. Segundo o Cepea, já há relatos de embarques postergados diante da incerteza tarifária.

Antes da decisão, havia expectativa de crescimento das exportações de frutas, impulsionado pela valorização cambial e pela recomposição das safras. Agora, o cenário mudou: possíveis redirecionamentos para a União Europeia ou para o mercado interno podem gerar excesso de oferta e pressão sobre os preços pagos ao produtor.

Diplomacia como saída estratégica

Diante desse panorama, o Cepea considera urgente uma ação diplomática coordenada para tentar reverter ou excluir os produtos agroalimentares brasileiros da medida tarifária. Em nota, os pesquisadores afirmam que tal revisão não é apenas de interesse do Brasil, mas também dos próprios Estados Unidos.

“A segurança alimentar e a competitividade da agroindústria norte-americana dependem substancialmente do fornecimento brasileiro. Uma política protecionista pode ter efeitos adversos sobre as duas economias”, conclui o comunicado.

Fale com a Redação