A Câmara Municipal de Campo Grande reuniu, em audiência pública nesta segunda-feira (29), autoridades, especialistas e usuários para discutir a tarifa zero para o transporte coletivo urbano da Capital. O debate foi convocado pela Comissão Permanente de Mobilidade Urbana da Casa.
“Mobilidade urbana não é só transporte gratuito. Ele impacta em vários setores importantes da sociedade. Tem muita gente aqui em Campo Grande que não consegue emprego porque não tem dinheiro para ir em uma agência de emprego. Temos que pensar em qualidade. A mobilidade tem que ser a melhor opção, mas o transporte público hoje é falta de opção”, disse o vereador Prof. André Luís.
A cidade de Maricá (RJ) acabou com as concessões em 2014 e, desde então, o transporte público é gratuito e todos os veículos contam com ar-condicionado, principal pedido dos usuários campo-grandenses. O presidente da Empresa Pública de Transporte da cidade, Celso Haddad, apontou os benefícios para a economia da cidade desde a implantação da tarifa zero e afirmou que o transporte é um direito de todos.
“Hoje, mais de 106 cidades aplicaram esse direito para todos. O transporte de tarifa zero não é somente deixar de pagar tarifa. Os benefícios que isso leva para o município são enormes. Melhora a saúde, educação, cultura e a sociedade em geral. Melhora para que as famílias tenham ampla cidadania”, afirmou.
Segundo a vereadora Luiza Ribeiro, proponente do debate, o transporte público eficiente é essencial para o desenvolvimento sustentável das cidades. Uma tarifa acessível ou gratuita não apenas melhora a mobilidade urbana, mas, também, tem impactos positivos significativos no meio ambiente, reduzindo a dependência de veículos particulares e, consequentemente, diminuindo as emissões de gases nocivos.
“Nossa cidade possui a 10ª tarifa mais cara entre as capitais brasileiras, cobrando hoje o valor de R$ 4,65, mesmo com Município e Estado subsidiando o concessionário, que recebeu no ano de 2023 o repasse de R$31,2 milhões de reais do Município e R$ 10,2 milhões do Estado. Nesse sentido, vemos que a gratuidade do transporte coletivo urbano se apresenta como a melhor solução para ampliar o acesso das pessoas à cidade e ao mesmo tempo garantir um meio de deslocamento mais sustentável para o meio ambiente”, disse.
Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela USP, Daniel Santini é coordenador da Fundação Rosa Luxemburgo e especialista em Tarifa Zero. Para ele, o transporte coletivo urbano passa por uma grave crise, não apenas em Campo Grande, mas em todo o Brasil.
“A tarifa zero é uma possibilidade para tentar reverter esse quadro grave. Há uma queda nacional no número de passageiros transportados nas principais redes do país. Essa falência está relacionada a uma crise cíclica, onde não há mais equilíbrio. O trabalho de pensar e discutir é de suma importância. É preciso pensar em saídas para essa crise que está colocada”, afirmou.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo e Urbano de Campo Grande, Demétrio Ferreira de Freitas, falou das dificuldades que os profissionais enfrentam no dia a dia.
“O trabalhador, todos os anos, tem demandas muito grandes com o Consórcio Guaicurus, e ultimamente chegamos a paralisar, pois o Consórcio alega que a tarifa que recebe não é suficiente. Tarifa zero é o sonho de todo mundo e o transporte coletivo tem que ser prioridade também”, defendeu.
Em sua fala, o vereador Ayrton Araújo destacou que a tarifa zero é um investimento. “Vai gerar emprego e renda, além de melhorar a qualidade do transporte coletivo. É um custo alto para o trabalhador e para o empresário. É um projeto fantástico e espero que, realmente, após essa audiência pública, haja interesse do Poder Executivo”, disse.
Para o deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP), que integra a Frente Parlamentar em Defesa da Tarifa Zero na Câmara dos Deputados, operar o sistema de transporte através da tarifa não é o correto. “A conta não fecha e, cada vez mais, as pessoas vão deixar o transporte coletivo de lado. A tarifa zero não é uma coisa absurda. No mundo todo se discute esse tema e temos várias cidades com tarifa zero”, explicou.
Já a deputada federal Camila Jara destacou que o deslocamento é um direito universal, e cabe ao poder público proporcionar um serviço de qualidade.
“Não é possível normalizar perder um parente todos os dias no trânsito de Campo Grande. Nós, enquanto representantes públicos, temos a obrigação de nos comprometermos e pensar adiante, oferecer oportunidade para que as pessoas possam escolher qual meio de transporte vão utilizar. A tarifa zero já é uma realidade em outras cidades e não tem porque não ser realidade em Campo Grande”, garantiu.