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quinta-feira, 17 de julho, 2025
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Tarifa de 50% dos EUA pode tirar até 0,5% do PIB do Brasil, estimam economistas

A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode provocar um baque expressivo na economia brasileira. Segundo projeções iniciais de economistas ouvidos pelo R7, a medida pode levar a uma retração de até 0,5% no Produto Interno Bruto (PIB) e a uma perda de até US$ 9,4 bilhões na balança comercial. A nova taxação deve entrar em vigor no dia 1º de agosto e afeta setores estratégicos como carne, café, pescado, aviação e siderurgia.

De acordo com Hugo Garbe, doutor em economia e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a nova tarifa representa um verdadeiro “teste de estresse” para o modelo de comércio exterior brasileiro. “Estamos estimando impactos significativos em setores que são muito dependentes do mercado americano, como o de cafés especiais. Encontrar alternativas não será fácil, por causa de exigências técnicas e sanitárias impostas por outros países”, afirmou.

Garbe calcula que o saldo comercial do Brasil pode recuar até US$ 9,4 bilhões — cerca de 0,44% do PIB atual, estimado em US$ 2,17 trilhões. A possível desaceleração também acende alertas sobre investimentos estrangeiros e o nível de emprego em setores voltados para exportação.

Setores atingidos e risco de efeito em cadeia

A lista de produtos brasileiros afetados inclui commodities e itens com grande peso na pauta exportadora nacional, como suco de laranja, carne bovina e aviões. “O impacto tende a ser generalizado. O comércio entre os dois países é relevante, e estados como São Paulo, que lidera as exportações aos EUA, devem sentir primeiro os efeitos”, afirmou o economista Newton Marques, do Corecon-DF.

Além da perda de competitividade, Marques alerta para o risco de fuga de capitais e desvalorização cambial. “Se os investidores perceberem que setores estratégicos se tornaram inviáveis, podem repatriar recursos. Isso afeta o câmbio, aumenta a volatilidade e reduz a confiança no mercado local.”

Preços podem cair no mercado interno

Parte dos produtos antes destinados ao mercado americano deve ser redirecionada ao consumo interno, o que pode provocar quedas nos preços. “Se a carne não for exportada, será oferecida no mercado interno, derrubando os preços. O mesmo pode acontecer com o café”, disse Marques. Apesar disso, ele pondera que o alívio nos preços ao consumidor não compensa o prejuízo macroeconômico: “É uma soma de resultados que não é boa para o país.”

Crescimento ameaçado

O economista César Bergo, da Universidade de Brasília (UnB), estima que o impacto sobre o crescimento do país pode variar de 0,2 ponto percentual em 2025 a 0,6 ponto percentual em 2026, caso o cenário mais severo se concretize. “Ainda é cedo para saber o real tamanho do impacto, mas, no pior cenário, o PIB pode crescer apenas 2% em 2025 e 1,3% em 2026.”

Apesar das projeções negativas, Bergo ressalta que parte das exportações brasileiras já está contratada, o que pode amortecer os efeitos no curto prazo. “Muitos produtos já estão embarcados. Neste ano, o impacto tende a ser residual.”

Governo brasileiro reage

O governo federal contesta a medida e tem feito gestões diplomáticas para reverter ou minimizar os danos do tarifaço. A equipe econômica já se reuniu com representantes da indústria e do agronegócio para discutir estratégias de resposta. Paralelamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que adotará medidas de reciprocidade, amparado pela recém-regulamentada Lei da Reciprocidade Econômica.

Com a tarifa programada para entrar em vigor em menos de duas semanas, o Brasil enfrenta um desafio imediato: conter os impactos econômicos e políticos de uma medida que ameaça abalar um dos seus principais parceiros comerciais.

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