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terça-feira, 4 de novembro, 2025
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EJA Mulher oferece nova chance de estudo e muda vidas em Campo Grande

Projeto da rede estadual atende 145 mulheres e alia acolhimento, educação básica e qualificação profissional

Conciliar trabalho, família e estudos é um desafio diário para muitas mulheres. Quando essa rotina é marcada também por vulnerabilidade social ou episódios de violência doméstica, o caminho fica ainda mais difícil. Pensando nisso, nasceu o Curso EJA Mulher, uma iniciativa da Educação de Jovens e Adultos que tem mudado histórias e aberto novas oportunidades em Campo Grande.

Criado em 2024 como projeto piloto, o curso é voltado a mulheres que desejam retomar os estudos na educação básica. As turmas acolhem alunas a partir de 16 anos (anos iniciais) e 18 anos (anos finais), com o objetivo de garantir acesso, permanência e inclusão educativa — respeitando a trajetória de vida de cada uma.

Escola do acolhimento

Em 2025, o programa já atende 145 mulheres, com turmas nas escolas estaduais Marçal de Souza Tupã-Y, José Ferreira Barbosa e Vereador Cristóvão Silveira, esta última localizada no Jardim Noroeste, uma das regiões com maiores índices de vulnerabilidade social de Campo Grande.

Conhecida como “Escola do Amor e do Acolhimento”, a EE Vereador Cristóvão Silveira abriga cinco turmas do EJA Mulher e se tornou referência por unir formação geral básica e qualificação profissional, ampliando as chances de inserção no mercado de trabalho.

A professora Flávia da Fonseca Vilela, que leciona na unidade, destaca que o grande diferencial do projeto é o olhar humano sobre cada história. “Nosso trabalho parte da escuta e do respeito às trajetórias de vida. O conhecimento só faz sentido quando dialoga com quem aprende. Aqui conhecemos muitas batalhas, e cada uma dessas mulheres é um exemplo de coragem”, afirma.

Histórias de recomeço

Entre as estudantes está Beatriz Resende de Barros, de 26 anos, mãe de dois meninos — Anthony, de 7 anos, e Yrian, de 4 meses. Determinada a mudar o próprio destino, ela voltou à escola com o filho bebê ao lado. “O diretor permitiu que eu trouxesse o Yrian comigo para a sala, e isso fez toda a diferença. Meu sonho é terminar o ensino médio, cursar Engenharia Civil e mostrar aos meus filhos que nunca é tarde para recomeçar”, conta.

A trajetória de Beatriz é parecida com a de Lucinéia Procópio, 38 anos, moradora do Jardim Noroeste e mãe solo de três filhos. “Sempre quis estudar, mas as dificuldades financeiras me fizeram parar. O EJA Mulher me deu a chance que eu esperava. Posso estudar tranquila sabendo que meu filho está sendo bem cuidado na brinquedoteca. Hoje acredito que tudo é possível quando a gente acredita”, diz, emocionada.

Educação com empatia

O EJA Mulher alia educação e acolhimento. Nas aulas, são trabalhadas as áreas de Linguagens, Matemática, Ciências Humanas e da Natureza, com metodologias adaptadas para a realidade das alunas adultas.

Um dos grandes diferenciais é a sala de acolhimento, espaço criado especialmente para receber os filhos das estudantes durante o período noturno. As crianças participam de atividades lúdico-pedagógicas, acompanhadas por profissionais capacitadas. A iniciativa tem ajudado a reduzir a evasão e garantir que as mães permaneçam estudando.

Sonhos que renascem

A história de Joanice Lopes Miranda, de 51 anos, mostra a força desse recomeço. Após mais de uma década longe da sala de aula, ela se mudou para o Jardim Noroeste para cursar o EJA Mulher.

“Achei que não teria mais chance de estudar. Mas o Estado lembrou da gente aqui. Essa escola é sonho, realização e conquista. Voltar a estudar me fez provar que ainda posso e que tenho capacidade”, diz com orgulho.

O EJA Mulher reafirma o compromisso com a equidade de gênero e a emancipação feminina por meio da educação. Mais do que um curso, o projeto representa esperança, reconstrução e futuro — provando que, com acolhimento e oportunidade, os sonhos podem renascer a qualquer idade.


📘 Entenda o projeto

Nome: Curso EJA Mulher – Educação de Jovens e Adultos
Criação: 2024 (projeto piloto)
Público-alvo: Mulheres a partir de 16 anos (anos iniciais) e 18 anos (anos finais) em situação de vulnerabilidade
Objetivo: Promover o acesso à educação, valorizando histórias de vida e incentivando a equidade de gênero
Escolas participantes (2025):

  • EE Marçal de Souza Tupã-Y – Jardim Los Angeles
  • EE José Ferreira Barbosa – Vila Bordon (EJA Mulher Indígena)
  • EE Vereador Cristóvão Silveira – Jardim Noroeste
    Total de alunas: 145 mulheres
    Diferenciais: Sala de acolhimento para filhos das estudantes, formação geral e qualificação profissional
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