Estado sofre sequência de ações criminosas após anúncio de medidas para tornar mais rigorosa fiscalização nos presídios. Neste sábado, Assembleia Legislativa aprovou pacote de medida contra onda de violência.
13/01/2019 08h11
Por: Paulo Martins e Rafaela Duarte/G1
Membros de facções criminosas voltaram a cometer ataques no Ceará na madrugada deste domingo (13) na tentativa de fazer com que o estado recue de medidas que tornam mais rigorosa a fiscalização nas penitenciárias.
No 12º dia da onda de violência, bandidos detonaram explosivos em uma ponte da BR-116 na Grande Fortaleza e incendiaram veículos em duas cidades.
A ponte sobre o Rio Choró, na cidade de Chorozinho, foi interditada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) nesta madrugada, após a detonação de explosivos na parte inferior da estrutura. Ainda não há informação sobre a dimensão do dano causado à ponte, conforme a PRF.
Motoristas que trafegam entre as cidades de Fortaleza e Chorozinho devem fazer a rota pela cidade de Horizonte.
Pessoas que moram próximo ao local, na entrada da cidade, relataram um “tremor” com o impacto da detonação. “Estremeceu até a janela daqui de casa, parecia um tremor de terra. Foi um estrondo muito grande”, afirmou um morador da região, que não quer se identificar. A casa dele ficou com ranhuras nas paredes após a explosão.
Os crimes ocorreram após a apreensão de cerca de cinco toneladas de explosivos no Bairro Jangurussu, na periferia de Fortaleza, na tarde de sábado (12).
Segundo a Polícia Civil, membros de uma facção criminosa presa no depósito forneciam o material explosivo utilizado nos crimes.
Entre a noite de sábado e a madrugada deste domingo também foram incendiados carros particulares em Umirim, no interior do estado, e em Fortaleza, no Bairro Siqueira.
A onda de violência começou em 2 de janeiro, um dia após Mauro Albuquerque tomar posse do cargo de secretário da Administração Penitenciária, pasta criada no segundo mandato de Camilo Santana.
Mauro Albuquerque fez operações para apreender celulares nos presídios e prometeu acabar com a divisão de presos conforme a facção criminosa a que pertencem. Os ataques são uma tentativa de fazer com que o governo desista das ações. O governador do Ceará, Camilo Santana, afirmou que “não há recuo”.
Nos 12 dias de crimes, foram 198 ações violentas em 43 municípios; 330 suspeitos foram presos, conforme a Secretaria da Segurança do Ceará.
O Ministério da Justiça confirmou também a transferência, para presídios federais, de 35 chefes de facção que ordenavam os ataques.
Medidas da Assembleia contra os ataques
Na noite de sábado (12), em sessão extraordinária durante o recesso parlamentar, os deputados estaduais aprovaram um pacote de medidas na tentativa de fortalecer o combate às facções criminosas.
Estiveram presentes 36 dos 46 deputados estaduais do Ceará. O governador Camilo Santana prometeu assinar o pacote neste domingo e publicar em edição extra do Diário Oficial do Estado.
As medidas aprovadas por aclamação na Assembleia são:
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Lei da Recompensa, que paga em dinheiro quem denunciar autores de ataques ou fornecer informações que possam prevenir crimes;
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Retirada das tomadas em celas de presídios, para evitar que criminosos possam usar carregadores de celular;
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Aumento de 48 para 84 o máximo de horas extras que policiais civis, militares e bombeiros podem fazer por mês;
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Convocação de policiais da reserva para aumentar o efetivo nas ruas;
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Criação de um banco de informações sobre veículos destruídos na onda de ataques;
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Restrição da presença de pessoas no entorno dos presídios, com objetivo de evitar fugas;
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Criação do Fundo de Segurança Pública, que terá reserva para investir na prevenção de crimes e pagar beneficiados da Lei da Recompensa;
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Regularização do comando de tropas de policiais militares cedidas por outros estados (o que na prática já está acontecendo com agentes cedidos pelos governos de Bahia, Piauí, Santa Catarina e Pernambuco).
Entenda o que está acontecendo no Ceará
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O governo criou a secretaria de Administração Penitenciária e iniciou uma série de ações para combater o crime dentro dos presídios.
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O novo secretário, Mauro Albuquerque, coordenou a apreensão de celulares, drogas e armas em celas.
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Também disse que não reconhecia facções e que o estado iria parar de dividir presos conforme a filiação a grupos criminosos.
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Criminosos começaram a atacar ônibus e prédios públicos e privados. As ações começaram na Região Metropolitana e se espalharam pelo interior ao longo da semana.
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O governo pediu apoio da Força Nacional. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, autorizou o envio de tropas; 406 agentes da Força Nacional reforçam a segurança no estado.
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A população de Fortaleza e da Região Metropolitana sofre com interrupções no transporte público, com a falta de coleta de lixo e com o fechamento do comércio.
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Onda de violência afastou turistas e fez a ocupação hoteleira no estado cair.