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domingo, 28 de abril, 2024
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Ela deixou o magistério e foi muito feliz em sua carreira no Judiciário

Tem horas que a vida dá aquela reviravolta. E foi isso que aconteceu na história de Suely Santos Garcia quando ela ingressou no Tribunal. Natural de Campo Grande, mudou-se para Cuiabá acompanhando o marido e por lá foi professora por muitos anos. Tinha regressado à sua terra natal há pouco mais de um ano quando seu marido perdeu a batalha para uma doença, deixando ela e seus três meninos de 10, 14 e 18 anos.

Estava viúva ainda recente quando um amigo avisou do concurso para o cargo de agente de serviços gerais, destinado a trabalhar na copa. Não custava tentar já que era uma oportunidade de estabilidade muito bem-vinda naquele momento. Dava aulas numa escola particular quando pediu dispensa para entrar em exercício no fórum da Capital no ano de 1998. Foi lotada para atender, entre outros setores, o plenário do Tribunal do Júri.

Nunca tinha feito café em grandes quantidades, então deu aquele friozinho na barriga da novidade. A primeira providência tomada foi aprender as medidas para o café. E para não ter erro, seguia à risca a receita. Depois foi acertando a mão, descobrindo a preferência de cada Magistrado.

E foi um começo muito prazeroso, fora que era um pouco estranho também: “na sexta-feira, eu fechava minha copa e estava de tempo livre realmente, para cuidar da minha casa, dos meus filhos, ou o que eu desejasse fazer. Não tinha mais cadernos para corrigir, provas e atividades para elaborar e todas as tarefas de professor. Aquilo foi muito bom para mim, melhorou muito minha qualidade de vida”.

Logo que surgiu a oportunidade, mudou para o turno da manhã, coincidindo com a escola dos filhos, e também porque gostava de trabalhar cedo. Um dos juízes do Júri tinha por hábito que o almoço dos dias das sessões de julgamento fosse feito nas instalações do Fórum. Sua parceira de copa era a cozinheira nesses dias e Suely dava uma mãozinha como auxiliar, lavando as louças ou descascando algum legume. Elas organizavam a mesa, talheres, tudo o que seria utilizado na pausa para o almoço do Magistrado, da equipe de trabalho e dos jurados.

Bem recebida por todos, ela mergulhou de cabeça no novo ofício. Quando houve a mudança para a atual sede do fórum, na Rua da Paz, ela deixou a copa para assumir outra função na equipe de apoio do Plenário das Varas do Júri, passando a trabalhar no setor da portaria.

Foi uma nova mudança. Começou a lidar direto com o público externo, recepcionando e encaminhando familiares das vítimas, réus, acadêmicos, imprensa e o público em geral para adentrarem ao plenário. Havia um certo direcionamento para que familiares das vítimas não sentassem próximos da família do réu. E tinha que ficar atenta à capacidade do local e impedir a circulação de pessoas, inclusive de servidores para os bastidores do plenário, apoiando o trabalho de garantir a incomunicabilidade dos réus. Contava também com o apoio dos colegas policiais militares.

Alguns casos interessantes, ela batia o ponto e ficava acompanhando os debates. Já noutros, onde sabia-se de antemão que seriam julgamentos longos, a equipe toda já se preparava e deixava avisado em casa que não tinham hora para chegar. Recorda de um júri de repercussão que foi até meia-noite. Suely não tinha carro nessa época e ficou na frente do Fórum aguardando o colega que se prontificou a levar o pessoal para casa, mas precisou fazer mais de uma viagem porque não cabia todo mundo.

Esteve na equipe que trabalhou no júri histórico de Fernandinho Beira-Mar e também noutro caso de repercussão que chegou um ônibus do interior lotado de amigos e familiares do réu. “Isso sem mencionar os acadêmicos de Direito que já se faziam presentes. Houve um telão no plenário menor, o juiz distribuiu fichas, lotamos os dois plenários e, mesmo assim, ficou gente de fora. Tiveram que revezar as fichas”.

Assim encerrou sua carreira no ano de 2019, depois de passar seu último período do Poder Judiciário na portaria da Barão do Rio Branco. Era uma senhora experiente, com filhos casados e netos, quando dividia a portaria com a juventude que estava ainda no começo da vida e da profissão. Foi um pouco tia, mãe, confidente, conselheira e se adaptou também. Tinha a missão de estar atenta, controlando aqueles apressadinhos que tentavam adentrar ao Fórum pela manhã, mesmo cientes de que o atendimento ao público só começava à tarde.

De sua recém-aposentadoria, ficou envolta na reforma de sua casa no primeiro ano. Depois veio a pandemia e também tem hoje sob seus cuidados seu pai de 98 anos, o que a impede de visitar a netinha em São Paulo, sua única princesa. Mas, no aconchego do lar, recebe os dois filhos e os dois netos que aqui moram, além das noras e dos netinhos de quatro patas.

Resiliente com sua existência, Suely reflete: “eu acredito que nós estamos nessa vida cumprindo alguma coisa que foi combinada pelo universo. Então estou tirando esse tempo mais presa dentro de casa para cuidar de mim, de minha espiritualidade. Como sou uma pessoa otimista, busco extrair o que há de positivo em cada situação. E eu tenho muito orgulho dos meus filhos, netos. Não tenho do que reclamar, só agradecer. Deixei o Judiciário com esse sentimento também. Fui muito feliz por trabalhar no Tribunal, de onde tirei o meu sustento e levo comigo muitas coisas boas gravadas na minha mente e no meu coração”.

Fonte: Ascom TJ-MS

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