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quinta-feira, 18 de abril, 2024
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Estudo do Imasul não relaciona morte de peixes às queimadas ocorridas no Pantanal

Estudo desenvolvido por técnicos do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) não relaciona a morte de peixes verificada em fevereiro em algumas regiões do Pantanal com as queimadas que assolaram o bioma no ano passado. O problema tem origem em um fenômeno natural já conhecido da ciência – a dequada (ou decoada) – que consiste na diminuição do oxigênio dissolvido nos rios e tem como causa principal o acúmulo de material orgânico.

Estudo do Imasul não relaciona morte de peixes às queimadas ocorridas no Pantanal

O estudo envolveu 10 técnicos do Laboratório de Ictiofauna, do Centro de Controle Ambiental Eni Garcia de Freitas e da Gerência de Recursos Pesqueiros e Fauna do Imasul. Os técnicos visitaram regiões do Pantanal em que ocorreu morte ou sofrimento de peixes, coletaram amostras da água e de espécies e trouxeram para análises nos laboratórios. Foram três campanhas a campo entre 12 e 25 de fevereiro para verificação in loco da mortalidade de peixes no rio Miranda, na região do Passo do Lontra. Ao todo 10 pontos georreferenciados foram amostrados, incluindo as confluências dos rios Vermelho e Miranda e Miranda e Paraguai.

O biólogo Heriberto Gimenes Junior, coordenador do Laboratório de Ictiofauna e integrante da equipe que pesquisou o fenômeno, assegura que é possível concluir que as queimadas ocorridas no ano passado não tiveram influência na morte dos peixes. A causa é, mesmo, o acúmulo de matéria orgânica no fundo dos rios que, quando entram em decomposição, reduzem a quantidade de oxigênio dissolvido e aumentam a de dióxido de carbono. “Em outros anos, como em 2017, que não teve queimadas tão intensas como as do ano passado, a intensidade da dequada foi mais grave, verificando-se morte de espécies de grande porte”, frisou.

Estudo do Imasul não relaciona morte de peixes às queimadas ocorridas no Pantanal

O Imasul, aliás, tem feito trabalho permanente para monitorar a vida nos rios de Mato Grosso do Sul, conforme destacou o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck. “Nossa preocupação é verificar, sempre que há caso de morte de peixes, quais as causas específicas. Nessa época do ano sempre ocorre devido à dequada, porém pode ocorrer por outras motivações. Hoje, a Secretaria de Meio Ambiente tem estrutura adequada para fazer o monitoramento da qualidade das águas, mostrar à sociedade qual a relação de causa e efeito e identificar as ações necessárias para se antecipar ao problema. Temos estrutura e equipe competente”, frisou.

O estudo gerou uma Manifestação Técnica que detalha como ocorre o fenômeno da dequada. “(…) quando o nível fluviométrico do rio Paraguai ultrapassa 3,5m de acordo com a régua de Ladário, localizada no 6º Distrito Naval, provocando a depleção do oxigênio dissolvido (OD < 3,0 mg/L), alta concentração de Dióxido de Carbono (CO2) e potencial hidrogeniônico baixo (pH),  adicionalmente podem ser observadas alterações na cor e odor da água no local do evento”.

Espécies mais afetadas

Estudo do Imasul não relaciona morte de peixes às queimadas ocorridas no Pantanal

O estudo teve importância substancial porque, pela primeira vez, foi possível identificar quais as espécies que mais são afetadas pelo fenômeno da dequada, explicou Gimenes. Das 83 espécies registradas na região pesquisada, verificou-se que os bagres, cascudos e tuviras eram as que mais sentiam os efeitos da redução do oxigênio dissolvido. “São espécies que vivem no fundo dos rios, em que o nível de oxigênio já é mais baixo em situação normal, e quando ocorre a dequada são as primeiras a sentir”.

Para avaliar a qualidade de água foram analisados os seguintes parâmetros: oxigênio dissolvido (OD), Potencial Hidrogênico (pH), temperatura da amostra (°C), temperatura do ar (°C), turbidez e condutividade. “Ao todo 82 espécies de peixes, pertencentes a sete ordens, 25 famílias e 66 gêneros foram registradas durante o fenômeno de Dequada no rio Miranda, na região do Passo do Lontra (Tabela 3). Numerosos indivíduos de várias espécies foram observados na tentativa de captar OD na interface água/ar na margem direita do rio Miranda (Figura 1A)”, prossegue o estudo.

Estudo do Imasul não relaciona morte de peixes às queimadas ocorridas no Pantanal

Outra constatação importante: algumas espécies sofreram mutações para se adaptar ao meio e conseguir sobreviver mesmo com oxigênio reduzido. Isso ocorre em peixes de escama, como pacus, sardinhas, lambaris. Eles apresentam uma extensão labial que são reversíveis, mas que em tempo de dequada potencializa a captação de água de modo a melhorar o fluxo e compensar os baixos índices de oxigênio.

Desse modo, o estudo chega à seguinte conclusão: “Frente ao exposto, a mortalidade dos peixes no rio Miranda, na região do Passo do Lontra em fevereiro de 2021 está relacionada através da depleção de oxigênio dissolvido pelo fenômeno de Decoada, fenômeno este já registrado e esperado para a região, conforme dados disponíveis na literatura. Destacamos que o fenômeno pode ocorrer em diferentes intensidades e em diferentes meses do ano, pois os efeitos dependem diretamente da intensidade dos ciclos de seca e cheia do Pantanal, e não ocorrem simultaneamente em todos os rios.”

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