O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca nesta quarta-feira (2) para Buenos Aires, onde participará da 66ª cúpula de chefes de Estado do Mercosul, marcada para quinta-feira (3). Será sua primeira visita à Argentina desde a posse do presidente Javier Milei, em dezembro de 2023. Apesar do encontro internacional, não há previsão de reunião bilateral entre os dois líderes, que mantêm um relacionamento distante e de visões políticas opostas.
Mesmo sem um encontro formal, caberá a Milei, atual presidente pro tempore do bloco, transferir a presidência rotativa do Mercosul ao Brasil, cargo que Lula assumirá até dezembro deste ano.
Prioridades brasileiras no comando do bloco
O Brasil planeja dar novos rumos à agenda regional durante sua liderança semestral no Mercosul. Entre as prioridades do governo brasileiro estão:
- Concluir o processo de adesão plena da Bolívia ao bloco — formalizada em 2024, a entrada ainda está em fase final;
- Destravar o acordo comercial com a União Europeia, cujas negociações se estendem há mais de 20 anos e foram tecnicamente concluídas em dezembro de 2023.
Durante visita à França em junho, Lula reforçou, ao lado do presidente Emmanuel Macron, o desejo de finalizar o tratado até o fim de sua presidência rotativa no bloco. No entanto, o acordo enfrenta resistência da União Europeia, especialmente do setor agrícola francês, que teme impactos negativos sobre seus produtores.
Além do tratado com os europeus, o Brasil também pretende incluir os setores automotivo e açucareiro no regime comum de comércio e fortalecer a Tarifa Externa Comum, debatendo ajustes na Letec — lista que permite exceções à regra tarifária entre os membros.
Histórico e peso do Mercosul
Criado em 1991, o Mercosul reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai como membros fundadores. Com a entrada da Bolívia, o bloco fortalece seu peso econômico e populacional: juntos, os países somam cerca de 311 milhões de habitantes e um PIB de aproximadamente R$ 15,7 trilhões — sendo o Brasil responsável por cerca de metade deste valor.
Apesar de críticas e desafios internos, analistas destacam a importância estratégica de o Brasil permanecer ativo no bloco para reforçar sua capacidade de negociação em fóruns internacionais, como o acordo com a UE.
Celebração da Independência da Bahia
Antes de viajar à Argentina, Lula participou das celebrações dos 202 anos da Independência da Bahia, nesta terça-feira (2), em Salvador — sua quarta presença consecutiva no evento. A data marca a expulsão definitiva das tropas portuguesas, em 1823, meses após o grito da Independência por D. Pedro I, em 7 de setembro de 1822.
Durante a cerimônia, o presidente reafirmou o valor simbólico da data e enviou ao Congresso um projeto de lei que propõe tornar o 2 de julho o Dia Nacional da Consolidação da Independência do Brasil.
“É verdade que D. Pedro fez o grito da Independência, todo mundo sabe disso, mas pouca gente conhece a história do 2 de julho de 1823, quando o povo baiano conseguiu expulsar os portugueses definitivamente”, afirmou Lula em vídeo publicado nas redes sociais.
Com a transferência da presidência do Mercosul, o governo brasileiro assume agora uma nova etapa na política externa, buscando equilibrar diplomacia, pragmatismo e liderança regional — mesmo em meio às divergências ideológicas com alguns dos parceiros do bloco.