O Brasil assume nesta quinta-feira (3), em Buenos Aires, a presidência rotativa do Mercosul com o compromisso de destravar o acordo comercial com a União Europeia ainda em 2025. A transferência de comando, que será feita pelo presidente da Argentina, Javier Milei, durante a cúpula de chefes de Estado, marca o início de uma nova etapa de liderança brasileira no bloco regional.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou à capital argentina na quarta-feira (2) para participar do encontro — sua primeira visita oficial ao país desde a posse de Milei. Apesar das divergências ideológicas entre os dois líderes, o clima na reunião é de cooperação institucional. Caberá ao governo brasileiro conduzir as principais pautas do bloco nos próximos meses.
Meta: concluir acordo com a União Europeia
Um dos principais objetivos da presidência brasileira será a conclusão do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, cujas negociações se arrastam há mais de duas décadas. Lula voltou a defender a urgência do pacto em discurso recente e relembrou, nesta semana, conversas com o presidente francês Emmanuel Macron sobre o tema.
“Pedi para ele abrir o coração para o acordo”, disse Lula, que chegou a sugerir levar uma delegação de agricultores brasileiros à Europa para estreitar laços com produtores do bloco europeu e reduzir resistências.
Outras prioridades brasileiras no comando do bloco
Além do acordo com a UE, o governo brasileiro pretende usar a presidência para fortalecer a Tarifa Externa Comum (TEC), ampliar a cooperação em segurança regional e incluir o setor automotivo nas diretrizes comerciais do Mercosul.
Também está na pauta a integração do setor sucroalcooleiro ao regime comum do bloco e a atualização da Letec (Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum), com inclusão de novos códigos para garantir mais competitividade aos países-membros.
Entre janeiro e maio de 2025, o comércio intra-Mercosul movimentou US$ 17,5 bilhões. As exportações brasileiras somaram US$ 10,2 bilhões e as importações ficaram em US$ 7,2 bilhões, resultando em um superávit de US$ 3 bilhões. Os principais produtos vendidos pelo Brasil incluem automóveis, peças, itens industriais e minério de ferro. Já as importações se concentram em veículos, trigo e energia elétrica.
Agenda intensa: de Buenos Aires ao Rio
Após a cúpula do Mercosul, o presidente Lula retorna ao Brasil para uma série de compromissos. No Rio de Janeiro, ele participará da reunião do Brics, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
A agenda também prevê reuniões com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), para tratar do recente decreto sobre o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Apesar da judicialização do tema, Lula afirmou que não há crise institucional e reforçou o compromisso com o diálogo como instrumento político.
Com a presidência do Mercosul, o Brasil assume a responsabilidade de liderar avanços em integração econômica, equilíbrio nas relações internacionais e fortalecimento da presença do bloco em acordos comerciais globais.