O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retornou ao Brasil na noite desta quinta-feira (15) com a missão de liderar a resposta do governo federal à crise deflagrada por fraudes bilionárias em aposentadorias e pensões do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Após nove dias no exterior, Lula reassume os trabalhos no Planalto diante de um escândalo que envolve descontos indevidos em benefícios de segurados e pode chegar a R$ 6,3 bilhões, segundo investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU).
A prioridade imediata, segundo aliados, é assegurar o reembolso dos valores desviados. Desde a quarta-feira (14), aposentados e pensionistas podem acessar o sistema do INSS para informar se autorizaram ou não os descontos em seus pagamentos. O presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, afirmou que não há prazo limite para as vítimas se manifestarem, reforçando o compromisso do governo de que “ninguém ficará para trás”.
Embora ainda não exista data definida para o reembolso integral, o governo federal já garantiu que os valores descontados em abril — antes da suspensão geral dos abatimentos — serão devolvidos automaticamente em maio. A quantia estimada é de R$ 292,7 milhões. Além disso, todos os descontos em folha, como mensalidades de associações e sindicatos, foram bloqueados temporariamente após a deflagração da operação policial.
Crise expõe divergências sobre CPMI
Enquanto o Palácio do Planalto se esforça para blindar a gestão Lula das fraudes, cresce no Congresso a articulação para instaurar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o caso. A base aliada, inicialmente resistente à ideia, agora se divide: uma ala defende o apoio à apuração parlamentar como forma de reforçar a narrativa de que os desvios tiveram origem no governo de Jair Bolsonaro (PL), em 2019.
Essa tese vem sendo repetida por ministros e lideranças do governo, numa tentativa de delimitar responsabilidades e reforçar que a atual administração teria interrompido o esquema. O ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, levou esse argumento ao Senado na quinta-feira (15), onde protagonizou um embate com o senador Sergio Moro (União-PR), ex-ministro de Bolsonaro.
Nos bastidores do Planalto, no entanto, há receio de que uma CPMI possa desviar o foco técnico da investigação conduzida pela PF e pela CGU, transformando-se em uma arena de disputa política. Uma CPI politizada, segundo avaliação do governo, pode dificultar a apuração dos fatos e atrasar a devolução dos valores aos segurados prejudicados.
Reação coordenada
A orientação de Lula aos ministros é clara: unir esforços entre as pastas e os órgãos de controle para garantir transparência, agilidade e reparação às vítimas da fraude. O Planalto aposta em uma atuação coordenada para reforçar a confiança da população e evitar desgaste prolongado à imagem do governo.
A crise, que começou com a denúncia de descontos irregulares e agora se desdobra em investigações, embates políticos e riscos fiscais, representa um dos maiores desafios enfrentados por Lula no atual mandato. A forma como o governo gerenciará os próximos passos pode ser decisiva para conter os danos e preservar o capital político do presidente.