Motoristas cruzam os braços e ônibus não circulam em Campo Grande

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Terminal General Osório fechado no início da manhã com a paralisação dos ônibus do transporte coletivo em Campo Grande

Paralisação começou nesta segunda-feira (15) e afeta mais de 100 mil usuários do transporte coletivo

Campo Grande amanheceu sem transporte coletivo nesta segunda-feira (15) após os motoristas de ônibus iniciarem uma greve por atraso no pagamento dos salários. A paralisação foi aprovada em assembleia realizada na última quinta-feira (11) e confirmada nas primeiras horas da manhã, diante da falta de regularização dos vencimentos de dezembro.

Desde o início do dia, os terminais Morenão, Guaicurus, General Osório e Bandeirantes permaneceram fechados e sem circulação de passageiros. Até a última atualização desta reportagem, não havia previsão para a retomada do serviço. A assessoria do Consórcio Guaicurus foi procurada, mas ainda não havia se manifestado.

Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande (STTCU-CG), Demétrio Freitas, a decisão foi tomada após sucessivos atrasos. O salário deveria ter sido pago no dia 5 e, mesmo com o depósito de apenas 50% do valor, a categoria decidiu manter a greve.

Além do salário, os motoristas cobram o pagamento da segunda parcela do 13º salário, com vencimento até o próximo dia 20, e do vale-alimentação. “Daqui pra frente não muda nada. Não pagou, parou. Se pagar, trabalha normal; se não pagar, para”, afirmou Demétrio.

A paralisação deve afetar diretamente mais de 100 mil usuários do transporte público em Campo Grande. Dados da Planurb indicam que, diariamente, cerca de 116 mil passageiros utilizam o sistema, que percorre aproximadamente 72 mil quilômetros por dia. Em paralisações anteriores, houve aumento de congestionamentos e alta significativa no valor das corridas por aplicativos.

Motoristas cruzam os braços e ônibus não circulam em Campo Grande
Entrada da garagem de ônibus na Avenida Gury Marques

Impasse entre consórcio e prefeitura

Na última sexta-feira, o Consórcio Guaicurus alegou enfrentar grave crise financeira, atribuída à inadimplência do poder público em repasses relacionados a subsídios, vale-transporte e outros componentes tarifários. Segundo a empresa, a falta de recursos compromete o pagamento de salários, do 13º e a manutenção da frota.

A Prefeitura de Campo Grande, no entanto, nega atrasos e afirma que os repasses estão em dia, incluindo a antecipação de 57% da subvenção referente ao mês de novembro. A Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos Delegados) classificou a greve como sem fundamento e indicou possível ilegalidade do movimento, destacando que o município não foi formalmente comunicado.

Histórico de conflitos

O impasse ocorre em meio a um histórico recente de tensões entre trabalhadores, consórcio e poder público. Em outubro, motoristas atrasaram a saída dos ônibus das garagens por cerca de 1h30 em protesto contra atraso no adiantamento salarial, causando transtornos à população.

Paralelamente, uma ação popular pede intervenção judicial no Consórcio Guaicurus, com base em relatório da CPI do Transporte, que apontou falhas como frota acima da idade permitida, problemas de manutenção, ausência de seguros e má gestão financeira.

Com o impasse mantido, todas as linhas de ônibus seguem paralisadas em Campo Grande, afetando a rotina de trabalhadores, estudantes e usuários que dependem diariamente do transporte coletivo.